A escassez de profissionais de tecnologia no Brasil e seu consequente impacto no ecossistema de startups
No início de Junho, um estudo publicado pela "Google for Startups" em parceria com a ABStartups fez um certo barulho no ecossistema de Tecnologia no Brasil. Dentre diversos tópicos tratados pelo material, um deles afirma que "o Brasil terá um déficit de 530 mil profissionais até 2025".
Em um país que já pouco investe em Educação, essa escassez de talentos poderá ser ainda mais comprometedora para a inovação e crescimento do PIB brasileiro. O impacto afetará diversos segmentos da Economia, sendo que a Startup irá sentir os efeitos negativos de forma mais clara que as Big Techs.
Quais são os principais desafios para as Startups?
Na visão das mais de 250 Startups brasileiras entrevistadas pela "Google for Startups", as áreas de tecnologia com maior escassez estão diretamente ligadas a soluções estruturais ou de aperfeiçoamento dos processos de trabalho, o que faz com que a continuidade dessas lacunas crie fragilidades para seus negócios. Estamos falando de posições na área de Desenvolvimento, Dados, Produto, IA e Cyber Segurança.
Ampliando a lente sobre essa falta de profissionais, vemos que há uma lacuna ainda mais profunda de pessoas em níveis seniores e hiper especializados. A grande dificuldade, neste quesito, é de equiparar a oferta salarial de grandes empresas nacionais e internacionais.
A terceira frente de destaque está relacionada à distribuição das oportunidades e, consequentemente, ao foco e desenvolvimento de talentos no país. O cenário atual é de grande concentração no Sudeste, que reúne 62% dos empregos de tecnologia do país, sendo 44% apenas no estado de São Paulo
Por fim, se por um lado percebemos a escassez de talentos especializados, o ingresso na área é bastante complexo. Um profissional Junior muitas vezes não vê condições de preencher os requisitos (e, por sua vez, a empresa não consegue "baixar a régua") e, assim, cria-se um gargalo para a formação de talentos em TI. Isso fica ainda mais latente em perfis minorizados da área (mulheres, LGBTI+, pessoas pretas, pessoas de classes sociais mais baixas), que enxergam essa régua como algo ainda mais intransponível.
Quais são as alavancas que podem nos ajudar a diminuir tal escassez de talentos?
Diante de tantas barreiras, é fundamental um pensamento coletivo para começarmos a "virar a chavinha". O jovem brasileiro precisa de referências na área para poder se espelhar e almejar crescimento, tal como ocorre no caso de jogadores de futebol, artistas e influencers. Demonstrar como a "carreira em TI pode ser tão sexy quanto o Neymar".
Além da questão cultural é fundamental que as crianças e adolescentes brasileiras tenham acesso ao computador e a tecnologia. Senão sempre será um "bicho de sete cabeças" para eles.
Com relação às lacunas de profissionalização, equacionar melhor a relação entre exigências corporativas e ofertas de cursos. Iniciativas de trazer a TI para as classes sociais mais baixas e/ou grupos minorizados também são fundamentais. Se a régua não baixar, simplesmente vai faltar gente.
Já em relação às lacunas de formação, deve-se investir em talentos não-seniores. Estes já estão escassos em 2023, com o capital em queda e os layoffs "bombando". Imagine como vai ser quando o Brasil voltar à rota do crescimento. Não haverá Seniores para tantas demandas. Promover mais políticas de acesso à diversidade e inclusão.
Com relação as diferenças geográficas, a instalação do trabalho remoto e apoio mínimo tecnológico propiciou que profissionais dos interiores participassem ao que antes só era permitido aos moradores dos grandes centros.
Por fim, para estancar a sangria de profissionais ao exterior, investir na flexibilidade e equiparação das condições de trabalho ao máximo com o que é oferecido no exterior. Dentro do possível, oferecer salários próximos do cenário internacional, deslocando a tecnologia dos demais setores da empresa se for necessário.